O mito do estômago “derretendo”: o que realmente acontece quando sentimos fome?
Quem nunca usou ou ouviu a expressão: “meu estômago está se derretendo de fome”? Essa frase popular ilustra bem a sensação desconfortável que sentimos quando ficamos muitas horas sem comer. Mas será que há alguma verdade nisso? O estômago realmente começa a se “autodigerir” quando está vazio?
A resposta curta é: sim e não. Embora essa ideia pareça exagerada (e um pouco dramática), há mecanismos fisiológicos reais por trás da sensação de fome que envolvem ácidos, contrações musculares e até hormônios. Vamos entender como isso funciona de fato?
🧪 O papel do ácido estomacal
O estômago é um órgão incrível, capaz de armazenar, digerir e mover os alimentos. Para isso, ele produz ácido clorídrico (HCl), uma substância extremamente forte, com pH entre 1,5 e 3,0 — forte o suficiente para corroer metais, se necessário. Mas felizmente, o estômago possui uma camada de muco protetora que impede que ele se digira a si mesmo.
No entanto, quando você está em jejum prolongado, esse ácido continua sendo produzido em pequenas quantidades. Em algumas pessoas, isso pode causar irritação na mucosa estomacal, provocando dor, azia ou desconforto — daí a impressão de que o estômago está “queimando” por dentro.
Mas não, seu estômago não derrete literalmente, nem começa a se dissolver sozinho. O que você sente são os efeitos desse ambiente ácido, em um órgão vazio.
💥 As contrações do estômago: os “roncos” da fome
Outro fator que contribui para essa sensação são as contrações estomacais, conhecidas como complexo motor migratório. Esses movimentos ocorrem entre as refeições, para “limpar” o trato digestivo e preparar o corpo para a próxima ingestão.
Essas contrações, associadas à movimentação de ar e fluídos no sistema digestivo, geram os famosos roncos da fome. Eles não indicam que seu estômago está se destruindo, mas sim que ele está ativo e aguardando alimento.
🧬 Grelina: o hormônio da fome
A ciência também identificou um hormônio-chave no processo da fome: a grelina. Produzida principalmente no estômago, a grelina age no cérebro, mais precisamente no hipotálamo, ativando a sensação de fome.
Níveis de grelina aumentam significativamente antes das refeições e caem após a alimentação. Ela também influencia o humor, o sono e até o aprendizado — o que explica por que é tão difícil se concentrar com o estômago vazio.
⚖️ Quando a fome real se transforma em risco: úlceras e gastrites
Embora a sensação de fome seja natural, o jejum prolongado e frequente pode ter efeitos negativos. Em pessoas predispostas, a exposição contínua ao ácido gástrico pode enfraquecer a camada protetora do estômago, facilitando o surgimento de gastrites ou úlceras.
Por isso, mesmo que o estômago não “se derreta”, ele pode sim sofrer danos reais se submetido a longos períodos sem alimentação adequada.
🍽️ Comer de 3 em 3 horas é necessário?
Essa ideia popular vem sendo contestada pela ciência nos últimos anos. Embora pequenas refeições frequentes possam ajudar no controle da fome e na digestão para algumas pessoas, não existe uma regra universal.
Mais importante do que a frequência, é a qualidade nutricional das refeições. Dietas equilibradas e bem distribuídas ao longo do dia ajudam a manter o sistema digestivo saudável e evitam o desconforto causado por excesso de ácido estomacal.
🔍 Conclusão
A expressão “meu estômago está se derretendo” pode até ser exagerada, mas não está totalmente errada em termos de sensação. A combinação de ácido gástrico, contrações musculares e ação hormonal realmente cria uma experiência desconfortável que é interpretada como fome intensa.
O mais importante é saber que esse processo é natural e necessário para manter nosso corpo funcionando bem. O segredo está em ouvir os sinais do seu corpo, alimentar-se de forma equilibrada e não deixar que a fome vire sofrimento.